Uma MAV q não me impede de viver!!!


Capítulo 18

E ficar tanto tempo dentro daquele forninho não poderia dar certo...  Além de serem momentos terríveis pra quem tem um pouco de claustrofobia, várias vezes eu recebi jatos de ar gelado para neutralizar o calor imenso naquela máquina... quando saí eu já estava quase sem voz, minha garganta estava arranhando...  ai, ai, ai...

Quando cheguei em casa minha garganta estava pior e eu estava muito rouca e com tosse... tosse,  dor de garganta e falta de voz não é bom pra ninguém passar o final de semana, principalmente pra quem tem uma palestra marcada para a segunda...  É, era essa a minha situação... e quando no sábado amanheci, completamente, sem voz eu me desesperei... nossa... eu só pensei na palestra de segunda, eu precisava fazer, eu queria fazer...  então conversei com meu otorrino e ele me passou antibiótico, corticoide, antinflamatório... tratamento de choque para resolver aquele problema de imediato...  O antibiótico me deixou meio estranha, ou muito estranha, tonta, com umas sensações horríveis, mas eu consegui fazer a palestra no Colégio Professora Hercília França do Nascimento, a escola onde fiz meu ensino médio... foi maravilhosa, eu não tossi, minha voz não me traiu, foi tudo maravilhoso, e fiquei super feliz por ver  a felicidade nos olhos dos alunos do primeiro ano... era uma palestra muito especial porque eu não fui só convidada pela diretoria, eu fui convidada pela diretoria a pedido dos alunos, e saber que eles me queriam lá aumentaram minha responsabilidade, mas também minha satisfação... foi lindo...

Na mesma semana tivemos feriado de 7 de setembro e eu resolvi colocar o #lunacozinha para funcionar... fiz uns pasteis de forno deliciosos, nossa... acho que uma das minhas melhores produções na cozinha, porém senti algumas dores na região da malformação... ai, senti por algumas vezes enquanto estava espichando a massa, mas não parei... 

A semana inteira foi esquisita, aqueles medicamentos eram tão fortes que me deixaram fraca... na sexta-feira eu trabalhei pela manhã como se estivesse andando em nuvens, eu não conseguia sentir nada direito... almocei, dormi um pouco e acordei ainda mais tonta, mas fui trabalhar.... cheguei na câmara e quando sentei parece que tudo estava longe de mim, achei que a minha glicose pudesse ter baixado então resolvi comer um pedacinho de bolo que havia levado para o lanche da tarde... quando coloquei um pedacinho de bolo na boca, já senti gosto de sangue, aquele gosto horrível de sangue que me acende as piores memórias... achei que pudesse ser só a sensação, mas em milésimos de segundos já senti minha boca cheia de sangue... fui correndo para o banheiro e pedi pra um colega me levar pra casa... só lembrar já é muito triste, fazia mais de10 anos que não tinha sangramento na gengiva, achava que isso nunca mais aconteceria, e quando de repente isso aconteceu, tive a impressão que o castelinho que eu havia construído era de cartas e ele acabara de desmoronar... :(

Já pensei em Curitiba... hospital, anestesia, cirurgia, UTI, e todo aquele sofrimento já conhecido de novo... mas quando eu cheguei em casa já havia parado de sangrar...  olhei no espelho e vi que tinha uma marquinha branca onde antes eu sentia uma veinha meio saliente na gengiva... eu não sabia direito o que fazer, e nem mesmo no que pensar... fiquei quietinha, encolhida no sofá, sem falar quase nada, sem comer nada, com medo até mesmo de engolir a saliva... naquela tarde levantei por várias vezes do meu ninho só para ver se aquela marquinha branca ainda estava lá...

No domingo era o aniversário da minha mãe e eu iria fazer os doces e salgados para a festinha que não se realizou... só mandei fazer um bolo, por sinal um bolo incrível, e só vieram duas amigas  e a família do meu irmão para comemorar o aniver... era pra ser o aniver mais especial, mas nem tudo que planejamos se realiza, e precisamos aceitar e aproveitar o que a vida nos apresenta...

Foi um golpe muito duro pra mim, no entanto me fez perceber que eu estou muito mais “dura” do que ele... estou “dura na queda”... hahaha

Pois é, em outra época, eu ficaria desesperada por dias a fio... e nesse momento eu sofri muito nas primeiras 24 horas, mas me reergui com muita rapidez... claro que eu fiz todo o repouso que o médico recomendou, mas não parei minha vida para chorar ou ficar pensando no que poderia ter acontecido... pelo contrário, eu aproveitei o repouso para agradecer por ter sido só um momento de desespero, e porque aquela veinha saliente, depois do sangramento, desapareceu como que por milagre...ou  por milagre mesmo...

Passei uma semana sem trabalhar, só ia à Câmara para fazer algumas coisas urgentes e voltava pra casa pra ficar o mais quieta possível...  a semana inteira fiquei, praticamente, internada no meu sofá... sofá porque não gosto de repousar na cama, cama pra mim foi feita pra dormir, ou pra fazer algo mais divertido do que repouso... hahaha

E no sábado minha vida recomeçou, e recomeçou com tudo... Eu havia sido convidada para participar de um Fórum Regional da Mulher Empreendedora que aconteceria em Mangueirinha, e fui... fui com um pouquinho de medo de sangrar... fui um pouquinho insegura... mas fui com a certeza que isso era o certo a se fazer...

E foi certíssimo... falei um pouquinho da minha vida para muitas mulheres de toda a região... e ao final elas levantaram, assoviaram, dançaram e cantaram comigo, ou dançaram e cantaram pra mim... Foi lindo, foi incrível, foi imprescindível para eu esquecer o dia difícil e partir para os dias de alegria... até a palestrante “chefe” do evento acabou me presenteando com muitas palavras cheias de carinho...

O meu mês estava cheio, eu tinha muitos compromissos, e foi tão interessante que mesmo com medinho eu não pensei em desistir de nada, eu queria mais era continuar a minha missão...

Durante aquela semana voltei à Itapejara D’Oeste, onde fiz minha primeira palestra, para palestrar mais uma vez no Colégio Marista... nossa, como foi intenso as hora que passei lá... minha mãe foi comigo e, certamente, sentiu o mesmo que eu... a acolhida foi perfeita e já começou antes de chegar à escola, com um abraço forte de uma amiga virtual muito querida que dizia que queria muito me conhecer pessoalmente, e quando me abraçou me disse que estava realizando um sonho... eu nunca imaginava passar por um momento tão especial assim... quando cheguei no salão para a palestra confesso que tive um pouco de receio, pois os adolescentes estavam ligados no 220, falavam muito, muito, muito e pensei... será que eles vão me deixar falar??? E para minha grata surpresa, quando comecei eles ficaram super atentos, participaram com palavras, olhares e suspiros... e no final me presentearam com uma chuva de abraços e palavras carinhosas... foi perfeito, e ainda ganhei a orquídea mais linda que já vi na vida...

Os dias iam passando e eu meio que esquecendo o episódio do sangramento... e isso me fez lembrar da teoria das janelas lights e das janelas killer... que significa que quanto mais abrimos janelas lights, mais elas apagam as janelas killer... ou seja, as más lembranças são deletadas pelas boas... e acho que é por isso que eu estou adorando colecionar boas recordações... :)

Mais uma semana e mais um novo desafio... desafio mesmo, dos grandes... uma palestra para mais de 200 crianças e adolescentinhos da catequese... Aiiiiiiiiii... com eles eu não poderia errar de jeito nenhum... Crianças gravam muito mais o que ouvem... e não poderia falar nada que não lhes gerasse lembranças úteis e saudáveis para o seu futuro... Tremi um pouco, mas foi tudo bem... talvez não tenha sido tão profunda quanto os adolescentes mereciam, mas precisei equilibrar as informações para não assustar os pequenos e no final creio que todos absorveram, confortavelmente, a minha  mensagem... e voltei pra casa felicíssima quando uma profe me contou que um dos seus alunos disse: “Profe, essa foi a palestra mais legal que eu já fui na vida”... Oinnnnnnnn... que fofo...  Sabia que ele não tinha idade pra ter assistido muitas palestras, mas mesmo assim foi um elogio que jamais esquecerei, e que me motivará pra sempre...

Que setembro agitado, hein??? E eu que cheguei a pensar que meu mês seria triste... que triste nada, meu mês foi de uma alegria indecifrável... e ele ainda não tinha acabado... ainda tinha mais... ainda tinha uma palestra programada para Honório Serpa, uma cidade em que morei por um ano, e que foi casa do meu pai por uns 5/6 anos...

Estávamos em período eleitoral e isso em cidade pequena é um tanto quanto perigoso, eu estava com medo de viajar à noite, estava com medo de alguém pensar que estávamos na estrada para fazer “política”, todavia encaramos o risco...

Quando chegamos ao Salão Paroquial onde seria realizada a palestra eu fiquei um pouco assustada, não havia ninguém, somente as organizadoras... e eu pensei, será que vem alguém??? E veio muita gente... nossa, aos poucos os lugares foram acabando, e tivemos quase 200 pessoas, na minha ex cidade pra me ouvir falar...

Gente que noite inesquecível... Quando me chamaram à frente, peguei o microfone e comecei a falar... a emoção tomou conta de mim... tomou conta porque para cada lado que eu olhasse eu só via  rostos muito conhecidos,  sorrisos cheios de empatia ou olhares marejados... Foi sensacional... e naquela noite eu provei mais uma vez o gostinho da felicidade plena... aquele gostinho de: “eu não quero que isso acabe nunca... eu não quero mais sair daqui”...  E quando terminei a minha fala, e terminei não porque não tinha mais o que falar, mas porque meus ouvintes já estavam cansados depois de uma hora e meia escutando minhas histórias, fui surpreendida com uma homenagem linda, mas linda demais...  As meninas chamaram um ex aluno meu e super cantor para fazer uma música pra mim... e concomitante à música começaram a projetar fotos e mais fotos da Luzinha aqui... ahhhhhhhh, isso é pra fazer a Lu chorar... chorar o choro mais gostoso do mundo... quanta emoção, quanta alegria e isso não era tudo... depois de todo o protocolo cumprido, fomos aos abraços e fotos... quantos abraços fortes, quantos reencontros marcantes, quanta amizade sabida e sentida num olhar e num sorriso, num aperto de mão e numa palavra de carinho...  Acho que nunca havia tirado tantas fotos na vida, e nunca tinha sido tão abraçada também...  e amei, amei, ameiiiiiiiiiiiiiiiii... e queria mis e mais e maisssssssss... 

Nem que eu mesma tivesse escrito aquela noite ela seria tão especial... eu, sozinha, não conseguiria imaginar tanto respeito, tanto carinho, tanto amor...

E assim eu posso dizer que fechei o meu mês com chave de ouro cravejada com brilhantes... haha

E mais uma vez comprovei que os medos existem para serem superados... e que o dia difícil existe para dar mais brilho aos dias de luz e de paz...