Uma MAV q não me impede de viver!!!


Capítulo 6

O número era de Minas Gerais, e depois do meu "alô" bem pouco delicado... ouvi, "Lu?"... affffff, que susto... aquele número era, totalmente, desconhecido... e àquela pessoa me chamou de Lu.. . logo descartei a possibilidade de ser telemarketing, e o meu mau humor já passou...  respeito muito todos os trabalhos, mas quando a gente não está bem o último telefonema que queremos receber é de telemarketing... 
 
Sorte que bem diferente do que me oferecer um novo plano de celular ou um empréstimo, ele me disse que havia conhecido a minha história através de uma matéria de um site (REDESUL) que havia sido compartilhada por algum amigo de face dele... depois disso me contou que entrou no blog e leu tudo, e que por isso precisava falar comigo para me parabenizar... Eu já havia recebido várias mensagens através de e-mail ou facebook, mas uma ligação de Minas Gerais foi, extremamente, inesperada e me deixou muito feliz... 
 
Conversamos por uma hora ao telefone e  falamos um pouco sobre a sua vida um pouco sobre a minha... sem a menor sombra de dúvidas ele havia lido toda a matéria e conhecido muito bem o blog... 
 
Chegou a comentar que se não tivesse encontrado o telefone no blog, ele daria um jeito de falar comigo, qualquer que fosse esse jeito... Confesso que desde que atendi a ligação eu fiquei imaginando quem teria hemangioma dentro dos seus contatos... pensei que fosse pai de um portador... mas aí me disse que não tinha filhos... então pensei que tivesse uma irmã... prima... sobrinho... amigo... filhos de amigos, não sei... a única justificativa que eu via para aquela ligação era essa, mas eu me enganei, redondamente... A única pessoa que ele conhecia com hemangioma, era eu mesma...
 
Pensei então que ele devia ter alguma diferença física e ter sofrido com bullying ou algo nesse sentido... também não... 
 
Numa conversa super agradável notei que o único motivo da sua ligação teria sido sua super sensibilidade... Em um de seus relatos ele me falou que trabalhava com várias mulheres e que elas ficavam doidas quando quebravam uma unha... então quando viu a matéria sobre a minha vida ele ficou admirado com minha forma de ver a vida... claro que eu gosto de estar sempre com as unhas bem feitas como todas as mulheres, mas diante do contexto, uma unha quebrada pra mim não faz a mínima diferença...
 
Ele me perguntou se eu era casada ou se tinha namorado e quando falei que não me disse que eu era muito linda... Naquele dia em que eu estava péssima, ouvir isso de alguém que eu nem sabia que existia... e ouvir isso em meio a tantas outras gentilezas fez meu dia mudar da água para o vinho... no meu caso do vinho para a água, uma vez que minha bebida preferida é a água... hahaha
 
Enfim... trocamos whattsapp... facebook... e continuamos a conversa...
 
Engraçado, quando a gente não espera nada daquele dia... quer dizer, quando só espera tosse, espirro, cólica, dores e mais dores, surpresa...  Esse é um dos grandes motivos que me faz amar tanto a vida... as voltas que ela dá... como ela nos surpreende, e como os problemas são pequenos dentre tantas coisas boas em se viver... 
 
Algumas horas mais tarde ele me pediu em casamento... hahahaha
 
Disse que queria ter um filho... e para ter um filho precisava de uma mulher especial... e que eu seria essa mulher especial...
Mesmo sendo uma grande brincadeira, eu gostei de "ouvir"... 
 
Na verdade,o que eu mais gosteis mesmo foi de me ver como "mulher" outra vez... Vocês devem lembrar há quanto tempo eu não falava mais em relacionamentos afetivos, e não falava mais porque esses sentimentos estavam, totalmente, mortos dentro de mim... ou melhor, eu achava que estavam mortos, porém só estavam adormecidos... num sono profundo, mas só adormecidos... hahaha
 
Ele me ajudou muito a passar aqueles dias de atestado, mesmo trancada em casa ele trazia  luz e cor para os meus dias de dodoi... :) 
 
Às vezes eu precisava desligar o telefone em meio às suas ligações porque tinha crises de tosse terríveis, mas ele não se importava... pelo contrário, ficava preocupado e em pouco tempo já enviava mensagens pra saber se estava melhor... eu não lembrava mais como era bom sentir esse carinho do cuidado... Por mais que sejamos fortes, independentes e destemidas... Toda mulher gosta de se sentir cuidada e protegida, mesmo que a muitos e muitos km de distância... 
 
Os dias foram passando, eu melhorei e voltei ao trabalho.. UFAAAAAA... não aguentava mais ficar fora de circulação...
 
Nesse meio tempo fiz uma matéria com a Revista Pró-Saúde de Pato Branco... uma matéria bem breve e falando mais das questões práticas da minha malformação... não digo que foi fácil, porque ser sucinta é uma tarefa árdua pra mim.. e falar com praticidade sem misturar sentimentos então, tarefa quase impossível pois sou muito mais emoção que razão... no entanto, a matéria saiu e eu gostei do resultado... gostei mesmo, e os leitores gostaram também... obrigada, à Pró-Saúde pela oportunidade de viver um pouquinho no meio médico, sem estar na posição de paciente...#adorei hahahaha 
 
Ainda não estava 100% recuperada, mas precisava cumprir com meus compromissos, e o compromisso da vez era assistir ao Show do Vitor e Léo numa cidade vizinha com algumas amigas... Mesmo sem estar tão bem não poderia deixar de ir, porque os cantores poderiam cancelar o show se soubessem da minha ausência... então pelo bem geral da nação, fui... hahahaha
 
Mal sentei e um rapaz chegou me abraçando... e falando algo sobre uma reportagem...  não entendi direito por conta do barulho, mas achei muito legal ser conhecida e receber um carinho tão sincero por conta do blog... 
 
Aproveitamos muito o show... mesmo o sertanejo não sendo a minha preferência musical, achei a dupla maravilhosa...  e a diferença é que nós estávamos de bem com a vida, aí tudo fica melhor, mais intenso... Dirigi ida e volta... na ida tive companhias acordadas, que falavam e até cantavam... na volta tive como companhia meu som e o sono das companheiras... Mas sem problemas, eu gosto de dirigir à noite... adoro cantar... então dirigi cantando até chegar em casa, tranquilamente... 
 
E o final de semana só estava começando... ainda tínhamos um baile programado para o sábado... E foi a primeira vez que fui barrada no baile... hahahaha
 
Era pra me sentir envergonhada, aos 36 anos ser barrada na entrada de um baile porque o vestido estava curto demais,  mais de três dedos acima do joelho... mas a minha fase estava boa demais pra eu sentir vergonha de qualquer coisa... ao contrário, depois que entramos no baile, minhas amigas e eu, rimos como nunca antes... hahahaha  
 
Melhor crise de risos que crise de tosse, não é??? h
 
Que sorte que com o passar dos anos a gente muda... que sorte que aos poucos a minha vida foi ficando mais leve... que sorte que não me cobro mais perfeição, nem ser sempre a toda certinha, aquela que não pode errar, a que não pode desagradar... 
Que sorte, porque se tivesse sido barrada há alguns anos atrás eu iria querer me esconder pra nunca mais ser encontrada... haha
 
O mineiro, brincando,  me chamou de pessoa indecente depois disso... Mas garanto... minha roupa não era nada indecente, o que aconteceu foi um erro de cálculo mesmo... hahaha
 
Por esses dias recebi um super convite, uma professora de inglês me convidou para dar uma palestra... uma pequena palestra para seus  alunos do terceiro ano do ensino médio em um Colégio de Itapejara D'Oeste, uma cidade vizinha... Fiquei assustada... apreensiva... mas muito feliz... nunca imaginei ser convidada para dar uma palestra, ainda mais para adolescentes... acho que isso queria dizer que o trabalho do blog estava surtindo efeito... essa explanação seria no último bimestre do ano letivo, mas eu já estava pensando em como faria para falar em torno do tema: " A desmistificação da beleza holywoodiana"... 
 
Na verdade eu tinha mil coisas para pensar... o meu trabalho na câmara... as aulas de auditoria... os artigos dos meus orientandos... o blog... "o mineiro"...  hahaha
 
E por falar no mineiro, preciso confessar que comecei a gostar das conversas muito mais do que deveria... bom acho difícil quem não gosta de receber uma ligação toda manhã com um belo bom dia... ou ligações fora de quaquer horário programado só pra saber se está tudo bem e mensagens para ter certeza que chegou em seu destino... 
 
E com tudo isso comecei a criar expectativas muito além da possível realidade... eu sempre fui assim, sempre gostei de idealizar as pessoas e de sonhar com as situações perfeitas... 
 
Com uma alegria irresistível ele me ensinou a viver mais tranquila, mais leve, ainda mais feliz... e com um coração puro como não conheço outro, me ensinou a ser mais bondosa e mais generosa...
 
Apesar de tudo isso, acho que nem preciso dizer que não casei com o mineiro... e nem tive filhos com ele... aliás nem tivemos tempo para nos conhecer, pessoalmente, apesar de termos planejado muito esse encontro...
 
Mas o sofrimento por expectativas quebradas me fez trilhar um novo caminho... Pela primeira vez em muitos e muitos anos eu me preocupei com o meu coração... com os meus sentimentos... 
 
Creio que pelo fato do mineiro aparecer, justamente, agora quando minha saúde estava estabilizada é que tive condições de pensar em sentimentos... nos meus sentimentos... Eu passei muito, muito, muito tempo preocupada em me manter viva e saudável que não lembrava de cuidar do meu coração... Mas depois disso, resolvi fazer uma microfisioterapia para dar uma olhadinha nele... E minha micro, que também é minha prima, descobriu alguns traumas profundos e bastante severos... quando me falou as datas lembrei do rosto dos fatos que me faziam ter um enorme medo de me relacionar... 
 
A micro achou melhor me encaminhar para uma psicóloga para me ajudar a diluir esses traumas... e sabe que nem titubeei... nunca tinha feito nenhum tipo de terapia, mas achei a melhor hipótese para o momento, e então na mesma semana marquei uma sessão... 
 
E dessa primeira sessão, com certeza brotou uma nova Lu... :)