Uma MAV q não me impede de viver!!!


Capítulo 7

Quem diria que um dia eu procuraria uma psicóloga, e mais que isso, quem diria que eu gostaria disso.. hahahaha
 
Sempre tentei resolver tudo sozinha, sempre achei que poderia tratar meus medos, meus traumas com livros, homeopatia e boas risadas... mas que bom que descobri que não poderia... que bom que demorei mas descobri o quanto uma boa terapia poderia me ajudar...
 
Na primeira sessão, praticamente, acabei com o estoque de lenços de papel da Mônica... chorei muito, muito, muito... acho que já entrei chorando, pra aproveitar cada minuto... hahaha
 
E como chorar faz bem... chorar faz brotar dos nossos olhos os mais profundos sentimentos... e naquela tarde eu relembrei, dolorosamente, muitos dos mais íntimos e secretos sentimentos que eu já vive...É, para conseguir ajuda eu precisei abrir a "caixa preta" sem medo e sem vergonha... haha
 
Logo de cara eu gostei muito da psicóloga que minha prima tinha me indicado... extrovertida, firme,  descolada, profissional e motivada... o tipo de pessoa que me desperta confiança... tipo "amor" à primeira vista... hahaha
 
No início da conversa ela me disse qual o tipo de tratamento faria comigo - Terapia cognitivo comportamental... me explicou como agem dentro de nós os nossos pensamentos... me fez entender que os meus pensamentos me levam a sentimentos que me levam a ações... 
 
Olha que interessante isso, eu nunca havia parado pra fazer essa análise... Os pensamentos nos levam a sentimentos que nos levam a ações... uma coisa tão lógica mas que ninguém nunca havia me ensinado... uma coisa tão lógica, mas que eu jamais aprenderia sozinha... 
 
Por essa linha de raciocínio eu consegui entender que 90% de tudo que acontece comigo provém dos meus mais inocentes ou mais idiotas pensamentos... Por exemplo: quando acordava meio tonta (fraqueza normalmente) eu logo pensava que teria uma crise de enxaqueca... esse pensamento me levava a sentir muito medo e ansiedade... e essa ansiedade unida ao medo me faziam deixar de ir pra uma festa... o dia passava e eu não tinha nenhuma crise de enxaqueca, mas o dia passava sem eu ter aproveitado nada, porque aquele "pensamento bobo", havia atrapalhado tudo...  
 
E quantas e quantas vezes eu já pensei em algo ruim, e fiz meu dia ficar péssimo... o pensamento que mais afligiu por toda a vida era com sangramentos na gengiva ou na pele na região do hemangioma, e vocês não têm noção de quantos momentos felizes eu sacrifiquei por pensar que poderia sangrar... e pensando que poderia sangrar já vinha um sentimento desesperador de impotência que me levava a ficar trancada em casa, onde me sentia protegida sob os cuidados do meu pai e minha mãe... porque "SE" sangrasse eles estariam comigo... não que seja ruim ficar em casa, eu particularmente, acho ótimo... ficar em casa por medo é que é ruim... :(
 
Essa primeira sessão com a Mônica foi crucial na minha vida... eu cheguei lá pra falar do mineiro, vocês lembram do mineiro???
 
Então cheguei lá para falar dele e sobre a avalanche de emoções que ele me causou, e acabei achando  muito mais do que eu procurava.. hahaha
 
Eu já sabia nome, altura, RG e CPF dos meus problemas amorosos, mas não fazia ideia de como eles tinham afetado a minha vida... eu não conseguia entender porque aqueles relacionamentos que foram muito mais sentimentais que físicos tinham sido tão intensos  e ao mesmo tempo tão traumáticos pra mim...  
 
Tão traumáticos a ponto de fecharem o meu coração pra balanço por quase dez anos... Alguém pode não acreditar que uma pessoa possa passar tanto tempo sem amar, no sentido de casal, mas eu passei... eu passei dez anos querendo fugir de qualquer sentimento que pudesse me fazer sofrer...  claro que sempre coloquei a culpa no hemangioma, nas hemorragias, nas cirurgias recorrentes... eu sempre achei que não me sobrava tempo para envolvimentos sentimentais, mas ao bem na verdade, o que me faltava era coragem... 
 
Quando eu achava que estava conhecendo alguém legal, logo me vinha na cabeça as lembranças tortuosas daquelas relações frustradas... e nessa primeira sessão de terapia eu consegui entender o porquê... E o porquê estava dentro da minha primeira infança, do tradicionalismo da minha educação... 
 
O que a maioria achava normal, eu não achava... o que a maioria teria vivido como uma aventura, eu vivi como um grande romance... o que a maioria aproveitaria ao extremo, me fez sofrer por largos anos... 
 
Nessa primeira sessão, minha sensação era de chegar olhando para um lago escuro e coberto por algas... e a cada palavra ver as algas movendo-se uma a uma, e da água clareando, até chegar a refletir o sol em sua transparência... Meus sentimentos eram escuros, ofuscados pelas algas, mas aos poucos foram tornando-se claros e, totalmente, compreensíveis...  
 
Com o coração mais tranquilo, com os olhos inchados de chorar mas com uma leveza que a tempo desconhecia, eu saí do consultório, com algumas tarefas a cumprir, e diretamente, para a vida... para a minha nova vida... 
 
A minha nova vida sem mensagens às 6h da manhã para me dar bom dia... sem planejar encontros... sem aquele cuidado gostoso do mineiro... A minha nova vida com expectativas medidas e com uma imensidão de possibilidades para desbravar... 
 
Ahhhhhh, e com um chifre virtual também... afinal sou mulher moderna... hahahaha
 
Estranho, mas foi assim... alguns dias após a sessão, eu vi um post do mineiro e me senti traída.. traída de verdade... senti como se fosse uma esposa vendo um whattsApp daqueles no celular do marido... 
 
Uma sensação estúpida que tive, mas que me levou a chorar por dois dias ininterruptos... Chorei um rio de lágrimas ofendidas, sentidas, amargas... um rio de lágrimas tolas, previsíveis, insensatas... um rio de lágrimas que lavam a alma e que regam a terra para fazer florescer novas sensações, novas emoções, novos amores...
 
E nesse rio de lágrimas me perdi por alguns dias.. enviei mensagens para a psicóloga e ela me orientou, de forma bem delicada,  a deixar de ser boba... me fez entender que eu não havia sido traída pelo mineiro, que eu havia sido traída pela minha "expectativa"...  expectativa vazia e exacerbada... 
 
O problema é que quando a gente se sente traída, a gente se sente traída e ponto... e dói, como dói... 
 
Mas pra quem há alguns meses atrás se achava incapaz de sentir mais nada, até que essa dor foi bem delicinha... hahahaha
 
E tudo o que aconteceu com o mineiro, o que senti de bom, o que senti de ruim... tudo me fez desabrochar... sei que parece um pouco tardio falar em desabrochar aos 36 anos de idade... mas cada flor desabrocha ao seu tempo... :)
 
Eu não sou nenhum pouco adepta aquele ditado que diz: Para curar a dor de um amor, só outro amor... ao contrário, eu sou adepta ao viva o seu luto, refaça-se sozinha, para depois encontrar alguém quando estiver inteira para isso... mas nesse caso específico, e totalmente exporádico da minha vida, eu quis me dar uma chance de fazer diferente... 
 
E fiz diferente... sem me preocupar com convenções... sem me preocupar com o amanhã...  simplesmente me oportunizei viver o que eu quis viver, na hora que senti vontade de me entregar a um sentimento novo... 
 
Acho que nem preciso dizer que encontrei um outro alguém, que não era de Minas Gerais, nem falava UAI, mas que me ajudou a abrir mais uma nova fase nessa minha longa caminhada... 
 
Uma nova fase de liberdade de pensamentos, sentimentos e ações... uma fase de muitas cores e novos sabores!!! ;)