Uma MAV q não me impede de viver!!!


Capítulo 10

Acho que o capítulo mais difícil e também mais longo da minha vida... :(
 
Tive vários sangramentos, não muito pequenos mas que eram contidos, até que num dia muito chuvoso amanheci com hemorragia na gengiva... 
 
A impotência e o desespero foram avassaladores... Mais uma vez corremos para Curitiba à procura de socorro... Lembro de, mesmo antes de sair de casa, dizer aos meus pais: "não me deixem sair do hospital sem fazer tudo que for preciso"... Eu não conseguia mais lidar com o medo da reincidência dos sangramentos... Eu não queria mais viver naquela insegurança... 
 
Chegamos em Curitiba, meus pais, meu irmão e eu e o Dr. Lauro (meu anjo protetor) já estava lá à nossa espera, detalhe era um 21 de abril qualquer... mais um feriado que não deixei meu médico descansar... :(
 
Fui internada consciente que meu caso não era simples... 
O sangramento cessava por algumas horas e voltava a me atormentar... Eu precisava passar por mais uma embolização e na sequência por outra cirurgia... mas antes de realizar o que havia sido planejado, precisei passar por um outro procedimento cirúrgico de emergência para conter a hemorragia... Disso eu lembro muito bem... eu acordei no hospital com o sangramento, o Dr. Lauro não estava lá, pois ainda era muito cedo, então ligaram e ele chegou em meu quarto com roupa de ginástica, agora atrapalhei seus exercícios matinais, eu nunca fui uma paciente fácil mesmo... hahaha
 
Mais uma anestesia geral para minha história, mais uma junção de pensamentos tristes... mas saí da sala... não tão feliz, mas viva e sem sangramento... 
 
Desta vez experimentei uma sensação nova, pela primeira e única vez em minha vida de "paciente" fui mal tratada por enfermeiras... quem já passou por anestesias sabe que quando começamos a recobrar os sentidos, temos náusias, por vezes vômitos... Nesse dia, quando me senti mal e pedi ajuda baixinho, que era como eu podia falar no momento,  uma delas me disse em tom sarcástico: "ninguém morre disso"... 
Aff, como doeram essas poucas palavras, como doeu essa ironia... Alguém pode pensar que estavam muito ocupadas, não, elas estavam desocupadas, mas acho que não sentiam amor pelo que faziam, e muito menos compaixão pelo próximo, nesse caso, EU... Fazer o que??? O mundo não é recheado só de bons momentos, como também não é recheado só com pessoas de bom coração... 
Mas esse mau humor não afetou em nada o meu bom humor e a minha vontade de viver... Se era isso que elas queriam, perderam... hahaha
 
Ah, ainda nesse episódio, mais uma sensação nova, como não poderíamos correr o risco de mais uma hemorragia, e eu precisava comer, eu precisei usar uma sonda para me alimentar... Isso não é nada agradável, aquele caninho dentro do meu nariz, parecia uma tromba de elefante... Super desconfortável e super feia, mas vocês não imaginam o bem que ela me fez... hahaha
 
Passamos uns cinco dias no hospital, meu pai, minha mãe e eu, somente aguardando pela liberação do meu convênio para realizar a embolização ... 
Num desses dias, cansada de esperar, cansada de ficar trancada, acho que o dia de maior tristeza nesse pré-operatório, recebi uma ligação... eu recebia várias ligações de familiares e amigos em todos os dias, mas essa ligação foi diferente... era uma telemensagem, que eu jamais vou esquecer... palavras lindas, cheias de carinho e encorajamento enviadas pelos meus alunos/amigos do coração...  Como um gesto pode mudar, radicalmente, os nossos dias... Essa telemensagem, fez o meu pior dia se transformar num dia mega especial... 
 
Palavras de carinho, gestos de amizade e amor sempre fizeram multiplicar as minhas forças e a minha fé... 
 
Sorte que eles me deram essa injeção de ânimo, pois o final de semana estava chegando e meu irmão, minha cunhada e meu sobrinho mais velho iriam me visitar... os mais novos não puderam ir pois não tinham idade para entrar no hospital... 
Eu estava, relativamente, bem, mas aquela sonda ainda me incomodava e  eu também não queria que meu sobrinho me visse com ela... aí, conversando direitinho com meu médico, decidimos por tirá-la, afinal no início da outra semana eu já faria a embolização... 
 
Quando chegaram eu já estava sem sonda e toda arrumadinha esperando as visitas... parecia estar livre, leve e solta... mesmo trancada num quarto de hospital.. haha
O final de semana foi maravilhoso, marcado pela alegria de ter a família unida... 
 
Na segunda-feira, era aniversário do meu pai, e eu fui levada, cedinho, para o centro de hemodinâmica para a embolização... Para esse procedimento eu fui apresentada ao Márcio, um jovem e excelente cirurgião endovascular que faz parte da minha vida até hoje... ele foi o responsável pelo procedimento que pela primeira vez, foi realizado com anestesia geral... mais uma para aumentar minha coleção.. haha
 
Uffaaaaa... desta vez sem surpresas desagradáveis, saí da hemodinânica e fui muito bem cuidada na sala de recuperação... ;)
 
Quando voltei para o quarto, ainda "zonzinha" fui recebida por meus pais e meus primos.. minha prima chegou com toda a sua alegria, me abraçando e perguntando como eu estava, e o que eu respondi???  " Você já deu os parabéns para o meu pai, hoje é aniversário dele"... hahaha 
O que uma anestesia faz com a gente, parecia uma criança falando com ela daquele jeito... hahahah
Por sorte ela havia até comprado presente para o meu pai... Acho que minha preocupação com o fato dele passar seu aniversário naquele hospital era tão grande, que foi a primeira coisa que lembrei ao recobrar a consciência... haha
 
Passada a embolização, agora era esperar a cirurgia de fato, cirurgia esta que iria extrair os meus dentinhos que estavam ligados à malformação... todos menos o siso, pois esse já havia sido extraído há algum tempo atrás em uma outra pequena cirurgia, mas também com anestesia geral... só para fazer minha coleção crescer... hahaha
 
Pelo fato de haver muitos sangramentos na gengiva sempre foi muito difícil tratar os meus dentes, era uma missão quase impossível mas que meu querido dentista sempre cumpriu com muita competência e carinho... sempre com muita sensibilidade, entendia meus medos como ninguém... Seu prossifionalismo só não era maior que sua humanidade... Passamos longos anos cuidando dessas preciosidades, e agora era hora de lhes dar adeus... Ubiratan me ligou logo que ficou sabendo desse fato, e me disse que isso aconteceria em uma hora ou outra, mas que seria o melhor para mim, para minha saúde, e que depois a gente daria um jeito na questão da fala e na parte estética...  Suas palavras soaram como sininhos que trazem a boa nova... Só ele mesmo para me tranquilizar num momento assim... :)
 
Mais alguns dias no hospital, e fui levada para a sala de cirurgia... medo era pouco, o que eu sentia era pânico, eu conhecia o risco de se mexer naqueles dentes, mas não havia outra opção... Não sei dizer ao certo o que eu pensava, mas acho que não era medo de morrer, era medo de deixar as pessoas que eu tanto amo aqui sofrendo... 
 
Para descontrair, e me relaxar, lembro que o Dr. Lauro falou para o anestesista, "cuide bem da Luciana, você não sabe o tamanho do tio dela que está lá embaixo"... hahaha
É que um dos meus tios, o maior deles, havia estado no hospital me visitando e dando uma forcinha para meus pais, naquele final de semana... 
 
Foram longas horas de cirurgia, e tudo corria bem até que chegou no último dente e ocorreu uma grande hemorragia... Sorte que eu estava em boas mãos e protegida por Deus... perdi muito, muito, muito sangue, quase todo o sangue que poderia... saí do centro cirúrgico desacordada, e fui direto para a UTI... eu imagino a dor dos meus pais em ver essa cena, quando o esperado é que eu fosse direto para o quarto falando bobagens como nas outras vezes... 
 
Fiquei na Unidade de Terapia Intensiva (Cardíaca) meio inconsciente, mas nunca perguntei se pelos remédios ou pela fraqueza em que eu estava... não lembro de quase nada desse período, só lembro que meu irmão foi de Mangueirinha à Curitiba para me ver e não conseguiu entrar lá, o que eu entendo perfeitamente... é muito difícil pensar em ver alguém que você ama naquela situação... entubada, com respirador, sondas, tomando soro e sangue... eu sofro demais só em lembrar...
 
Acho que daí surgiu meu trauma com a tal UTI... hoje quando me perguntam se tenho alergia eu digo: "sim, à cebola e à UTI"... hahaha
 
Depois da tempestade vem a bonança... ao menos é isso que dizem... 
 
Então, chegou a hora de voltar para o quarto... uhulllllll
 
E é aí, que a história continua... ;)