Uma MAV q não me impede de viver!!!


Capítulo 24

Então por mais uma vez a vida me colocava numa situação delicada... novamente, numa condição de insegurança que me aterrorizava...Mais um obstáculo a ser superarado...

Depois de vários pequenos sangramentos na necrose, numa tarde quando fui ao banheiro me arrumar para voltar ao trabalho, começou a gotejar sangue... a impotência é tão grande quando vc abaixa a cabeça e o sangue começa pingar que o pensamento que vem à mente é que isso nunca vai acabar... que essa é a sua sina e pronto...

Eu estava fazendo tudo certinho, estava sob a orientação da minha dermato, dos meus cirurgiões vasculares e ainda do Dr. Lauro... todos estavam acompanhando de perto o caso... mas nada que eu fizesse surtia o resultado esperado...

Nessa tarde depois daquele pequeno sangramento eu fui deitar, não tinha condições de ir trabalhar, afinal sabia que o melhor que podia fazer por mim era repousar...

Continuava conversando com aquele carinha do facebook... ele havia viajado mas mesmo assim estávamos bastante próximos... essa relação, mesmo sendo somente virtual me fazia bem... me fazia desfocar do problema... me fazia olhar para outro lado da vida..

Eu adoro dormir à tarde pra descansar, pra me reenergizar... mas o sono desta tarde foi especial... dormi preocupada e pedindo a Deus pela minha saúde, pela cura daquela necrose e tive um sonho... sonhei com uma mulher me dizendo: "coloca água e mel, só água e mel"...  no instante em que acordei lembrei do sonho e automaticamente lembrei de uma amiga, que conhece e trabalha muito bem com medicina alternativa e que sempre usou o mel... mas assim como lembrei dela, esqueci do sonho...

Levantei e fiquei com minha mãe vendo TV,  e nutrida pela tristeza que estava vivendo, postei algo no facebook... não gosto de compartilhar coisas tristes,  prefiro compartilhar otimismo, paz, amor, alegria... mas o momento estava super difícil e não me contive.... não lembro, exatamente, o que escrevi... mas minutos depois de postado, lembro muito bem do comentário que encontrei lá: "Lu, se precisar de mim estou aqui"... era a Mil, a amiga que lembrei assim que acordei do sonho... amiga que mora no Tocantins e que há muito tempo não tinha notícias...

Eu fico emocionada demais só de relembrar esse fato... No mesmo instante veio tudo à minha cabeça, o sonho.... a água e mel... então chamei minha amiga e contei pra ela o que estava me acontecendo, e o que eu havia sonhado... a resposta foi: "Luzinha, não foi sonho, foi um aviso de Deus, o mel é o maior cicatrizante natural e você vai usá-lo assim... e então me passou todas as instruções...

Meus pais correram comprar o mel mais puro e eu iniciei esse tratamento, sem mesmo falar com meus médicos... preciso confessar que não contei pra eles com medo que me dissessem: "não faça isso"... e eu precisava tentar...

Eu tinha medo de que quando colocasse a água com o  mel a crosta da necrose se quebrasse e estimulasse um sangramento, mas a Mil me disse que isso não aconteceria, que as crostinhas só iriam cair, aos pouquinhos, e quando já houvesse uma pele cicatrizada embaixo...

Eu diluía uma pontinha de colher de chá de mel, num copo de água fervida (um copinho de cafezinho), e então com uma seringa gotejava sobre a necrose de 4 a 6 vezes ao dia... e o resultado positivo já apareceu na primeira noite... àquela crosta horrível começou a "murchar"... e eu, timidamente, voltei a sorrir... não só eu, claro que não, mas toda a minha família e amigos também...

Nesse meio tempo em que estava apavorada com a necrose eu já havia decidido largar as aulas por aquele período... as aulas que tanto adoro de Contabilidade Pública, pois não tinha condições de enfrentar uma sala de aula, sabendo que a qualquer instante um sangramento poderia acontecer... não seria justo comigo, muito menos com meus alunos... Essa decisão me doeu demais, mas não era bem uma questão de escolha... :(

Naqueles dias eu tinha dois compromissos festivos e, extremamente, importantes.. dos quais eu já havia desistido, afinal com que cabeça eu iria à uma festa???

Acho que é por isso que eu adoro tanto viver, num dia eu não iria festejar no outro eu já estava festejando... hahaha

E estava festejando mais que o casamento dos meus primos, eu estava festejando mais uma vez a vida... claro que não dancei, não bebi... claro que me comportei direitinho respeitando as limitações que a necrose ainda me impunha, mas estive com eles no momento mais especial das suas vidas... e estive lá, mesmo com uma aparência diferente por conta da crosta, mas me sentindo lindíssima... Cabelo arrumado, um make que eu mesma fiz, salto muito alto e um sorriso de quem venceu mais uma... :)

No outro compromisso festivo eu não pude comparecer, era formatura da primeira turma de Contábeis da FADEP, mas era no mesmo dia do casamento... em outra situação claro que eu daria um jeitinho e iria nos dois eventos, mas como precisava cuidar do meu físico e também não podia me emocionar demais, infelizmente, faltei nessa festa, mas sei que muitas ainda virão... ah, e sei também que meus alunos entenderam o porquê da profe não estar presente naquela data tão mágica para todos.

Enfim que a necrose estava melhorando, um pouquinho por dia... um passinho de cada vez e eu estava começando a me sentir um pouco mais segura...

Como a Mil havia dito, a crosta estava se desfazendo bem devagar, caindo pedaços minúsculos...

Quanto ao relacionamento virtual, este estava como a crosta, se desfazendo, pedacinho a pedacinho.. dia após dia... hahaha

Tudo que envolve duas pessoas é uma questão difícil... nunca sabemos o que a outra está pensando... e a outra nem imagina o que passa em nossa cabeça...

E para mim o que começa a se desfazer é porque tem seus dias contados... e com ele não foi diferente... O encanto acabou, mas tenho certeza que foi bom enquanto durou... posso afirmar que foi bom para os dois....E como a vida já me ensinou em outras oportunidades, não precisa ser longo e muito menos eterno para ser intenso, para valer a pena.

Como sempre, em todas as situações difíceis da minha vida, eu já tinha algo a mais preparado... por isso sempre penso,ou melhor, por isso estou certa de que os meus planos são muito pequenos perto de tudo aquilo que lá de cima já se tem planejado pra mim...

Nessa época, pela primeira vez depois de 15 anos eu iria viajar no carnaval... minha amiga Sil e eu já tínhamos comprado as passagens e reservado o hotel para passarmos cinco dias em Floripa, ah e também já tínhamos comprado os ingressos para assistir o desfile Principal das Escolas de Samba de Florianópolis...

Claro que a única possibilidade sensata e prudente,  seria desistir da viagem, uma vez que com aquela ferida aberta eu não poderia tomar sol... eu não poderia sambar... eu não poderia viajar... um voo poderia ser arriscado...

Minha amiga, como amiga para todas as horas que é,  aceitou, prontamente, que cancelássemos a viagem...

Ai, ai, ai... mas meu coração queria ir... meu coração não queria desistir... meu coração há pouco havia aprendido que é possível ser feliz de novo e de novo e de novo...

Eu estava consciente que o meu coração poderia aprender a ser feliz quantas vezes se fizessem necessárias... e que depois das turbulências está a VIDA... Pois é, e lá fomos nós para o carnaval em Floripa, VIVER... hahaha

Claro, levando o mel, a seringa e tudo o necessário para eu me cuidar como deveria... mas lá fomos nós...

Até o último dia eu titubeei, mas quando embarcamos naquele avião minha alma sorria, dizendo: “Viu só, o mundo gira, gira, gira”...

Chegamos em Florianópolis e já marcamos nossos passeios... o hotel era maravilhoso e ficava num ponto estratégico... do ladinho do Sambódromo, tudo o que precisávamos para garantir o nosso carnaval...

O clima não colaborou muito... pelo menos não com todos os outros turistas que estavam esperando um sol incrível e mais de trinta graus... porém comigo, acho que o tempo colaborou demais, afinal eu não poderia me expor a tanto sol mesmo... hahaha

Conheci muitas pessoas diferentes... conversei com todo mundo... A Sil ficava indignada, mas eu adoro conversar...para mim cada conversa, seja ela com quem for, é mais que uma troca de experiências, é uma troca de carinho...

Visitamos todos os shoppings... passeamos por todas as praias... assistimos alguns filmes (eu adoro cinema) e ainda assim conseguimos nos bronzear, tomar um banho de mar e participar do desfile das escolas de samba...

Mesmo a chuva não tirou o brilho daquele sambódromo... mais uma experiência única na minha vida... que é lindo todo mundo sabe, isso a gente consegue ver pela TV, mas a energia que existe lá, não tem como explicar... a energia transborda de cada coração, porque todas aquelas pessoas sambando na chuva, estão lá por amor e nada mais... e isso contagia, pelo menos a mim contagiou...

No voo de volta pra casa, um homem muito bonito sentou ao meu lado, pensei nossa que sorte... uma das coisas que mais gosto de fazer é andar de avião, numa companhia dessas então...  Pra ser melhor era só se o voo fosse pra Paris e durasse 14h, e não pra Chapecó com duração de 1hora apenas.. hahahaha

Ele era tão sério quanto lindo... e notei que estava tenso também... Ele estava analisando uma documentação muito conhecida pra mim, então conversamos um pouco sobre nossos trabalhos, e após alguns instantes de uma pequena turbulência descobri o porquê da sua tensão...  Não, ele não me abraçou para se sentir seguro, mas mesmo assim percebi que não gostava de avião e acho que consegui tranquilizá-lo... hahahaha

Mais uma passagem para marcar nossa viagem... mais uma conversa... mais uma pessoa para a minha caixa de recordações... :)

E como eu amo conhecer pessoas, viajar por suas histórias, imaginar o que pensam e o que sentem...

São elas, as pessoas o que mais me fascina no mundo...

Bem, aqueles dias foram revigorantes... ver gente, me banhar no mar, assistir os 50 Tons de Cinza no cinema,  tomar caldo de cana e água de coco, ensaiar  um samba junto com as escolas de Samba, poder contar com a companhia de uma super amiga e poder ajudar um homem de 1,80 a superar seu medo... nossa, todos esses momentos me ensinaram que desistir do que me faz feliz, está fora de cogitação... ;)

E é vida que segue...