Uma MAV q não me impede de viver!!!


Capítulo 16

O primeiro passo nesse novo tratamento fez muita diferença na minha vida... depois de muitos e muitos e muitos anos eu consegui enxaguar os cabelos de olhos fechados, deixando a água rolar no meu rosto sem a sensação de que quando abrisse iria ver o banheiro inundado em sangue... Eu consegui voltar a usar esmalte vermelho sem sentir pânico ao olhar para minhas unhas...eu consegui vislumbrar um futuro muito além do amanhã...
 
Gente não tem nada melhor que conseguir vencer as barreiras do medo, não há nada melhor que se sentir confiante...
É muito difícil mensurar quanto vale lavar os cabelos com os olhos fechados para quem faz isso automaticamente,  mas pra mim essa pequena atividade significava mais que fazer uma longa viagem de avião para quem tem fobia de altura... :)
 
Bom, os dias, os meses estavam passando... e eu vivendo, vivendo, vivendo, mas sabia que como consequência da embolização poderia ocorrer uma necrose, não sabia direito o que era uma necrose e por isso não me preocupava, até que ela apareceu... hahaha
 
Logo após a sessão de fotos notei uma mancha escura e bem pequena na região do queixo que começou crescer,e crescer  rapidamente... logo formou uma feridinha e a feridinha sangrou um pouco e para não perder o costume fomos até Curitiba, mais umaa vez às pressas para saber ao certo o que estava acontecendo... o Dr. Márcio confirmou que esta era a necrose, e que o fato dela aparecer era um bom sinal, sinal que a embolização tinha surtido efeito e que o fechamento daqueles vasos estavam fazendo com que a circulação local diminuísse e assim a morte da pele - a tal necrose. 
 
Nesse momento, com uma crosta já formada, precisei da ajuda da minha dermatologista, ela que já havia me auxiliado muito em outras dificuldades... Uma vez tive um sangramento porque a pele estava muito ressecada, e ressecada porque eu não dava o devido valor pra ela, eu não cuidava da minha pele, ela que me protegia de tudo e de todos :(
Nessa ocasião, a Luciane minha dermato já havia me salvado com um creminho simples e uma pomadinha pra assadura de bebê, e agora com a necrose foi pra ela que eu pedi socorro, foi ela quem me orientou em como proceder com essa lesão...
 
Eu precisava fazer duas limpezas diárias com soro fisiológico e passar uma pomada cicatrizante... o primeiro passo foi desfazer a crosta, cuidadosamente, para não ocasionar sangramentos, e depois cuidar para que a necrose fosse fechando sem trazer riscos...
 
Tarefa nem um pouco fácil... já dormia nervosa pensando em acordar e fazer a tal limpeza... mas era uma tarefa que só eu poderia fazer, ou melhor, que eu não conseguiria confiar a mais ninguém... não pelo medo que me machucassem, mas pelo medo  de alguém se sentir responsável por algo que pudesse acontecer... sempre preferi que a única responsável fosse eu...
 
Por algumas vezes sangrou um pouquinho quando fazia a limpeza, afinal tratava-se de uma ferida aberta numa região com vascularização íncrivelmente,  maior que a normal... Era uma, duas, três ou 10 gotas de sangue que me deixavam tremendo... a primeira vez que saiu uma gotinha de sangue eu quase tive um piti... O que vem à cabeça é que o horror pode voltar e isso me desestabilizava demais... por algumas vezes deixei de fazer o que eu precisava, deixei de sair de casa, deixei de ir na aula de inglês por medo...  mas aos poucos fui aprendendo a me controlar e resolver o problema...
 
E assim foram passando os dias... essa era minha nova rotina... toda manhã e toda noite eu precisava limpar muito bem o local, ficava quase meia hora para lavar com um sabonete próprio, depois limpar com uma gase e soro fisiológico para depois passar a pomada receitada... Essa meia hora, ou melhor, essas duas "meia horas" eram de pura tensão... Acho que nem preciso dizer que mais uma vez o emocional começava a sofrer um pequeno abalo... :(
 
Eu não queria mais me prejudicar por medo e por insegurança... Eu queria continuar a vida feliz que eu havia experimentado e gostado, então precisava buscar ajuda... 
Foi então que intensifiquei minhas sessões de microfisioterapia, nossa como uma técnica que parece tão simples pode fazer tanta diferença... Eu que não tinha vontade de nada, muito menos de fazer festas, um dia depois de uma sessão, fui levar os noivos pra casa depois do fim da sua festa de casamento.. hahahah
Pra quem não gostava de festas, acho que esse foi um bom sinal.. hahaha
 
Neste período minha vida estava bem tranquila, trabalhando só oito horas por dia, fazendo aulas de inglês, curtindo os amigos, correndo dos amores... hahahaha
 
É, depois de alguns romances mal resolvidos acho que adquiri uma certa aversão, não aos homens, mas aos relacionamentos... 
Incrível como isso acontece, do nada surge um medo, uma sensação de que não adianta investir porque não vai dar certo... e aí a solução é fugir... fugir do relacionamento, ou de um possível sentimento, quem sabe???
 
Mas não era em sentimentos, festas, relacionamentos ou trabalho que eu mais pensava... o que não saía da minha cabeça era o fato de ter mais algumas embolizações pela frente... era o fato de que a qualquer momento o telefone poderia tocar para me dar a data do próximo procedimento... e isso não demorou pra acontecer... 
 
Menos de oito meses depois, lá estava eu, mais uma vez dando entrada no hospital, assinando todos aqueles termos e sofrendo por antecipação... mesmo tendo aquele acordo com o Dr. Márcio, de não ir para a UTI, ela é que mais me amedrontava.
 
Enfim que chegou a hora e lá fui eu... chorando, chorando, mas isso só pra não quebrar o protocolo... hahaha
 
Meninas muito amadas me deram toda a atenção possível lá dentro, mas aí estando lá dentro só conseguia pensar naqueles que eu tinha deixado lá fora... pai, mãe, irmão, cunhada... Fiquei muito tempo esperando para ser levada para a sala e lembro de pedir para a Val avisar meus familiares que eu ainda estava na sala de espera, para não deixá-los tão nervosos pela demora... 
 
Esse procedimento foi bem mais rápido, os médicos já conheciam o caminho.. hahaha
 
Saí da hemodinâmica direto para o quarto... meio grogue pelo efeito de mais uma anestesia geral, mas falando pelos cotovelos... a única coisa que gosto dessas anestesias é que elas me dão coragem para falar quão grande é o maor que sinto pela minha família, pelos meus amigos e olhando nos olhos... :)
 
Nessa vez pouco tempo depois de estar no quarto já recebi bolachinhas salgadas com chá... pra quem nunca esteve num hospital e nunca esteve horas em jejum pode parecer uma comida insonsa... mas pra mim era o manjar dos deuses... hahaha
 
Logo que comi já estava 100%, me sentindo poderosa apesar de não poder levantar ainda... lembro que minha amiga Sil ligou, imaginando que falaria com minha mãe, e quando atendi o telefone ela levou um susto, perguntou pelos meus pais e eu disse: "Estou falando baixinho pra não acordá-los, estou cuidando deles"... hahahaha
 
Ela não acreditava que eu já pudesse estar falando ao telefone e ao bem da verdade, nem eu acreditava nisso... 
 
Essa internação foi mais tranquila... ao menos pra mim foi, já o Dr. Márcio ficou super preocupado comigo fora da UTI na primeira noite pós cirúrgica... Deixou todos os números de telefone e fez inúmeras recomendações... mas não precisamos incomodá-lo... 
 
No hospital tudo correu como planejado, com muitas visitas, uma tia/madrinha que foi pra Curitiba só pra ficar com a gente... as amigas queridas de lá, os amigos que fizemos no hospital e que agora vinham para nos rever, uma maravilha... 
Há quem diga e acredite que para se recuperar os pacientes precisam de repouso... eu, particularmente, preciso de calor humano, de boas energias, de carinho, de muitas risadas e de comidinha boa.. hahaha
 
Pra se ter uma ideia de quanto o papo era animado no meu quarto, que num dos três dias a enfermeira chegou para me dar uma daquelas injeções na barriga, e nenhuma das 5 pessoas que estavam me cuidando viu o fato...  e eu só vi porque doeu muito... hahahaha
 
Além de tudo que estava dando muito certo, nessa internação também tive outra grata surpresa, o médico que me deu alta tinha o mesmo nome do médico que fez o diagnóstico correto do meu caso e que já havia me socorrido por inúmeras vezes aqui na minha região... Eduar Guérios... não eram a mesma pessoa não, mas eram pai e filho... Fiquei muito feliz quando soube disso... Fiquei até emocionada... Minha segurança, minha confiança aumentaram ainda mais... O Eduar Neto havia acompanhado minha embolização e o seu pai já era um velho amigo... agora eu tinha o apoio dos dois... :)
 
Quando saí do hospital já tinha uma nova preocupação, estávamos, minha mãe, minha tia, uma amiga e eu, com férias marcadas com saída em 20 dias... e eu fui liberada só porque ia estar perto do Dr. Abath, o cirurgião que vinha do Recife para para os meus procedimentos.
 
Que maravilha, tão pouco tempo depois da cirurgia e lá estava eu viajando para Fernando de Noronha... quantas vezes ao ver as matérias sobre esse lugar eu fiquei sonhando em conhecer, mas parecia uma realidade muito distante já que eu não fazia planos, já que eu vivia como os AAs, um dia de cada vez... e nas minhas contas, ao deitar,  era sempre: mais um dia sem sangramento, obrigada,  Senhor!!!...
 
Agora além de inúmeros dias sem sangramento eu já planejava a minha vida, eu já marcava viagens sem aquele medo absurdo o dia do embarque não chegar pra mim... :(
 
E os detalhes da viagem, só no próximo capítulo.. ;)