Uma MAV q não me impede de viver!!!


Capítulo 1

Eu nasci aos 10 minutos do dia 20 de julho de 1979, dizem q foi a noite mais fria do ano... Tinha uma manchinha mto pequena, como se fosse a picada de um mosquito que não preocupava ninguém... "uma manchinha de nascença"... e qdo completei 8 meses de vida e começaram a nascer os primeiros dentinhos tive uma hemorragia importante na gengiva... Eu imagino o desespero da minha mãe, ela achou q fosse um machucado, mas não conseguiu estancar o sangue. Então ela e meu pai me levaram para o hospital e lá se deu minha primeira cirurgia, minha primeira anestesia geral... Minha mãe emociona-se até hj qdo lembra q eu chorava mto e não queria ir no colo do médico, então fui anestesiada no colo dela, e depois disso o Dr. falou: "agora o tio faz o q quiser com vc"... Sei q ele não falou por mal, mas se essas poucas palavras doem em mim (q não as ouvi) eu imagino como ficou o coração dos meus pais naquela hora... A hemorragia foi estancada e a minha vida prosseguiu... 
 

Capítulo 2

Depois dessa cirurgia de emergência aos oito meses, minha primeira infância foi, extremamente, normal... Claro que minha família sempre teve alguns cuidados a mais comigo, mas nada que pudesse interferir na rotina de uma criança feliz... Nunca gostei muito de brincadeiras perigosas, e hj me coloco a pensar se eu não gostava ou se eu fui, sutilmente, levada a não gostar?!? Hahaha

De qq forma isso não me fazia falta, eu gostava mesmo de brincar de escolinha, sendo eu a professora é claro, ou de escritório... talvez seja por isso q hj sou contadora e professora... 

Em meio a esses primeiros anos, a manchinha foi crescendo, e a maratona pelos médicos começou... em cada consulta qdo questionada sobre o crescimento da mancha, eu respondia q ela estava crescendo como eu, na época eu achava q isso era normal... Acho q isso prejudicava o trabalho dos médicos, pois mesmo com o aumento de volume e tendo sangramentos não raros na gengiva o dignóstico era sempre o mesmo: é de nascença,  um hemangioma cavernoso que vai diminuir com o tempo... como eu queria q fosse verdade... 

Não era verdade, mas esse diagnóstico equivocado me proporcionou uma vida normal, sem medos ou limitações exageradas... 

Eu adorava estudar, tinha muitos amiguinhos e participava de todos os eventos da escola - teatro, desfiles, festivais... 

Ah, adorava jogar volley, era levantadora... Meu tamanho não permitia outra posição... Hahaha 

Por algum tempo, acreditem se quiser, pratiquei ginástica olímpica, preciso confessar q em meio a alguns exercícios tinha sangramentos, mas não contava a ninguém pq se eu contasse não deixariam q eu continuasse os treinos...  Crianças não façam como a "tia Lu"... Contem td aos seus pais, professores e principalmente aos seus médicos... E assim a vida prosseguiu até a adolescência... 

 

Capítulo 3

E a adolescência chegou... época difícil, de muitas dúvidas e muita incompreensão... fase de revoluções emocionais para todos os meninos e meninas... E por que para mim seria diferente?!? 

Aos 13 anos eu estudava pela manhã e trabalhava à tarde no escritório de contabilidade da família... continuava com os treinos de voleibol... tinha vários amigos e amigas... Eu fazia tudo que tinha vontade, mas nessa etapa da vida a questão estética por conta do hemangioma me incomodava, e eu queria muito tirá-lo do meu rosto,  não queria ser modelo, só queria ser como as outras meninas... 

Com essa idade os amores começam brotar, assim como os hormônios entram em ebulição... Entre tantas dúvidas, eu me perguntava sempre se um dia eu beijaria na boca, pois imaginava que nenhum menino fosse querer ficar comigo porque eu era diferente... Cabecinha de adolescente mesmo, que não entende as diferenças e que sofre com medo de tudo...  

Envolvida por essa angústia conheci um cirurgião plástico que ao me consultar, mesmo sem me tocar ou fazer algum exame, disse que numa cirurgia simples resolveria o meu problema, e que eu sairia da clínica perfeita, apenas com 2 potinhos... 

Incrível, todos os meus problemas estavam resolvidos... 

Vcs podem imaginar o que isso representou na minha vida??? Eu viajei, eu só pensava na saída da clínica enquanto meu pai se preocupava com os dólares para pagar o cirurgião... 

Foi então que no dia 06 de setembro de 1993, enquanto minha turma do colégio estava  em uma excursão para Lapa, eu estava em Curitiba sofrendo uma intervenção cirúrgica para a retirada do hemangioma... 

Pois bem, cirurgia feita, e os 2 pontinhos viraram 16 pontinhos e o volume do hemangioma muito maior... Foi só na hora da cirurgia que o médico descobriu que meu hemangioma não era cavernoso e sim arteriovenoso... :( 

O excesso de confiança do Dr. e a minha ansiedade por ter um rostinho perfeito quase me levaram a não estar aqui hoje para contar essa história... 

Eu adoro o quase... Nesse quase, Deus quis que eu permanecesse aqui e que soubesse que a vida é muito mais que um rostinho perfeito... E a vida continuou, normalmente...  Ah, e o medo de não beijar na boca desapareceu em pouquíssimo tempo.. hahaha