Uma MAV q não me impede de viver!!!


Capítulo 14

E assim corriam os dias, as semanas, os meses... em alguns momentos me sentia bem, em outros mal, ou muito mal... hahaha
Mesmo com os cuidados dos amigos, da minha família maravilhosa, do Dr. Alan, da Milzinha minha conselheira espiritual eu ainda não conseguia me livrar da angústia, do medo, da ansiedade... eu sabia do que precisava, eu sabia o que tinha que fazer, mas estava paralisada, como motorista em suas primeiras aulas de direção, conhece toda a teoria, mas na hora da prática, não sai nada... hahaha
 
Veja só, como os piores fatos só acontecem quando estamos mais sensíveis... Na volta de uma das minhas consultas, vi uma viatura da polícia parada num lugar estranho, nunca tinha visto uma ali, até comentei com minha mãe que estava comigo... Eu segui e a viatura saiu e veio no mesmo caminho que eu... eu diminuí a velocidade para abrir caminho, mas não fui ultrapassada, então resolvi aumentar um pouquinho a velocidade para não atrapalhar o policial, foi quando ouvi a sirene tocar, olhei pelo espelho e ele estava dando sinal para eu parar... Sem entender nada, estacionei meu C3 no acostamento e saí do carro para falar com ele... Surpresa, me deparei com o policial e uma pistola apontando pra mim... Eu fui andando em sua direção e perguntava o que estava acontecendo e ele só me questionava sobre de onde eu estava vindo e para onde estava indo e em quantas pessoas estávamos no carro... Expliquei o motivo da viagem e respondi que era só eu e minha mãe... Sorte que eu fiquei bem mais tranquila que ele e que minha mãe não moveu um dedo dentro do carro... Ele estava, visivilmente, exasperado... Sem baixar a arma em nenhum momento ele me informou que um carro igual ao meu havia sido roubado por 4 homens e deveria estar na região... Gente, me desculpem todos os policiais eu sei que o trabalho de vocês é de total tensão, mas eu fiquei perplexa com àquela abordagem... Se o meu coração não saiu pela boca naquela hora, acho que nunca mais... Quando fui liberada, meus batimentos cardíacos deviam estar perto dos 200... Eu fiz os 50km restantes tremendo dos pés à cabeça... Aff, quando cheguei em casa não conseguia nem contar a história direito... agora imagina, com tantas dificuldades no campo emocional e ainda ter que passar por isso... Q coisa hein?!? Melhor rir pra não chorar... mas a situação só fez abalar ainda mais o meu psicológico...
 
Em meio a essa tempestade emocional, eis que surge aquele ex que me apresentou a primeira/grande decepção com o sexo masculino... Diante de uma tragédia ocorrida com um amigo em comum, ele me procurou e só tenho a agradecer, pois se não fosse por esta atitude, eu não saberia a tempo e não poderia tentar ajudar uma amiga do meu coração no momento mais difícil da sua vida... Sabe aquela história, quando um amigo está sofrendo, guardo minha dor no bolso e vou ajudar??? Eu fui, mas nesse dia eu percebi o quanto é necessário que estejamos bem para poder ajudar as pessoas que nos são caras... Eu fiz o que eu consegui, mas poderia ter feito mais se estivesse inteira, física e emocionalmente. Sei que não poderia fazer nada para diminuir a dor da minha comadre, mas eu queria poder ter ajudado mais... :(
 
A atitude do meu ex naquele momento foi nobre, ele passou sobre tudo pra buscar conforto para uma amiga... E sei que ele só conseguiu fazer isso porque apesar de todos os pesares, nossas histórias estiveram sempre entrelaçadas... Depois desse telefonema e após tantos anos sem contato, conversamos muito sobre tudo, e creio que foi super importante pra poder diluir a mágoa do passado. Como sempre o tempo como pacificador. ;)
 
A cada dia eu sentia mais necessidade de voltar ao meu normal, voltei até a jogar vôlei pra me distrair... quer dizer, jogar é muita prepotência de minha parte, voltei a entrar em quadra, voltei a sentir a energia da bola "voando" sobre a minha cabeça, mas sempre com muito medo... Lembro que jogávamos homens contra mulheres, mas eu era levantadora "fixa" do time dos homens.. hahaha É que assim eu ficava mais protegida dos ataques adversários... todos sabiam que era um atividade um pouco arriscada pra mim, mas eu acho que eles queriam me ver feliz, e faziam de tudo para que eu fosse sempre, cuidavam de mim, me protegiam ao máximo... Lembro de um coelga que sempre que o time oposto ia sacar me dizia: "Deixa que eu pego, Lu... não se preocupa"... nunca vou esquecer desse carinho despretencioso... :)
 
Eu era muito bem tratada na minha nova cidade, mas mesmo assim eu não estava bem lá... Minha mãe estava ficando sempre comigo porque eu não me sentia mais segura pra ficar sozinha... então quem ficava sozinho era meu pai... essa situação estava insustentável pra mim, ainda mais quando lembrava das palavras do meu irmão quando decidi me mudar dizendo: "você sabe que vai separar um casal"... acho que ele me conhecia melhor que eu mesma, ele já sabia que eu não conseguiria viver sozinha e assim de certa forma obrigaria meus pais a viverem em cidades diferentes... A sensação de vê-los tentando transparecer felicidade quando eu sabia que seus corações estavam partidos me corroia por dentro... e isso só fazia aumentar meu nervosismo... 
 
Eu fazia massagem, eu fazia fisio, eu comprava, desordenadamente, mas nada me fazia sentir bem, a não ser as pizzas do Volma... hahaha Saudade do Iguaçu tinha a melhor pizza que eu já comi na vida... Mas só de pizza não vive uma mulher... hahaha Foi então que eu vi que precisava voltar pra casa, pra casa dos meus pais... mas como já havia comentado, eu não sei viver sem estabilidade, eu não poderia largar o meu concurso para trabalhar em algo que não me desse segurança... Nessa época eu havia começado a dar aulas em Mangueirinha, novamente, mas não era pelo salário e sim pelo amor que sempre tive pela docência... só que eu precisava de um emprego que me desse condições de manter meu estilo de vida, e que devolvesse a felicidade de viver juntos aos meus pais...
 
Fiz dois concursos para órgãos estaduais e federais mas não consegui a vaga, e também se conseguisse não sei se resolveria o meu problema, porque o que eu queria era morar mais uma vez em Mangueirinha... foi então que a Câmara Municipal dessa cidade lançou edital de concurso público e entre as vagas existia uma para contador... Nossa, uma luz no fim do túnel... mas uma luz de lamparina porque eram vários candidatos e o salário era desanimador... :(
 
Eu havia resolvido nem tentar, mas meu pai fez a minha inscrição e eu prestei o concurso... quanta tensão, o meu momento não era dos melhores, não havia conseguido me concentrar, muito menos estudar como deveria para a prova, e ao chegar no local ainda ouvi um colega dizendo: " Se a Lu vai fazer eu nem vou fazer mais"... Puxa vida, a pressão já era tão grande pela necessidade que eu sentia de voltar pra casa, e agora mais a pressão que ele colocou sobre mim, sei que não foi por mal, porém me abalou ainda mais...  Posso dizer com toda a certeza que foi a prova mais difícil da minha vida... Eu tremia e tinha vontade de chorar... E olha só o que o nervosismo faz com a gente, eu errei três questões que nenhum dos meus alunos de Contabilidade Pública erraria, eu achei que elas estavam muito fáceis, e tentei imaginar uma pegadinha em cada uma delas... quanta imaginação a minha... hahaha
Resultado, fiquei em segundo lugar na prova escrita... :(
 
Eu sabia que não tinha ido bem, não como eu gostaria, e quando o resultado chegou meu mundo caiu... a minha única chance de voltar pra casa tinha desaparecido... 
Só que não...  hahaha
 
Eu fiquei em segundo na prova escrita, mas o primeiro colocado não pontuou na prova de títulos então eu assumi a liderança... uhullll... 
E o dia desse resultado foi um dos dias mais pesados e mais felizes também... 
Só por ter obtido o primeiro lugar e garantido a minha vaga, não quer dizer que os meus problemas estavam resolvidos, ainda precisava ser chamada, ainda precisava assumir meu lugar... E por questões de ordem jurídica isso demorou alguns meses para acontecer... 
 
Cada dia que passava a minha ansiedade aumentava, cada dia que passava eu me sentia mais fragilizada, cada dia que passava aumentava o meu medo de acordar daquele sonho e não conseguir mais voltar pra casa dos meus pais... O difícil na vida é que nunca se pode ter tudo, nesse momento para eu ter a segurança e a tranquilidade de voltar pra casa, eu precisava deixar pra trás os amigos, o trabalho, a família saudadense que havia me acolhido com tanto carinho... não foi fácil, mas a vida é feita de escolhas... Não foi fácil porque o meu coração estava dividido... Não foi fácil porque toda mudança causa transtornos... Não foi fácil, mas foi a escolha que mudou a minha vida... Foi a escolha que aos poucos me devolveu a alegria de viver... 
 
Assumi minha vaga no dia 10 de maio e nesse novo trabalho encontrei outras pessoas maravilhosas, como sempre Deus sendo muito generoso comigo e colocando em minha vida novos colegas, novos amigos... eu nem sei descrever o que eu sentia naquele momento, mesmo pela apreensão por um trabalho novo, meu coração era só alegria... Mais uma vez, meu pai, minha mãe e eu, tínhamos a oportunidade de almoçar e jantar todos os dias juntos, de comentar o Jornal Nacional, de assistir as novelas de dormir sabendo que todos estavam bem e muito bem acompanhados... Quem tem isso todos os dias pode não ter notado como é importante, mas pra quem já perdeu essa convivência, sabe muito bem o que mais tem valor na vida... Família, família, família... 
 
Paralelamente ao retorno à minha vida tão sonhada, eu iniciei um tratamento com microfisioterapia, não sei exatamente até onde cada uma dessas questões agiu sobre mim, o que sei, é que meus olhos voltaram a brilhar, meu sorriso retornou ao seu lugar, e a felicidade foi convidada a fazer morada em minha casa...  Por falar em casa, minha casa ficou lá em Saudade, e quem ficou morando nela foi aquele colega que me protegia no volei, ele e sua família, todos muito queridos por mim... 
 
Nesse ano de transição fiz minha primeira viagem de férias, instigadas pela minha mãe, uma amiga e eu resolvemos ir para o Nordeste, e aproveitar o Sol e todas as belezas de Natal... foi a primeira vez que "andei" de avião... Q sensação maravilhosa... maravilhosa porque eu adoro altura, maravilhosa porque eu adoro sentir aquele friozinho na barriga, maravilhosa porque eu tenho um hemangioma que não me impediu de voar... hahaha
   
Quantas barreiras quebradas numa única viagem... As primeiras férias; O primeiro voo; O primeiro distanciamento dos meus pais depois de todas as turbulências que ainda eram tão recentes... Essa viagem foi inesquecível... nossa amiga Sil ligava preocupada para saber se estávamos bem... eu ligava toda a hora pra casa pra ver como tinham ficado meus pais... E eu só tinha uma preocupação, voltar bem pra casa... É que sempre pedi a Deus que não queria morrer antes de andar de avião, e quando desembarcamos em Natal, eu dizia a Deus: "Não adianta nada eu viajar de avião senão puder contar pra ninguém, deixa eu voltar pra casa, vai? " hahahaha
 
Sabe àquela sensação de que está dando tudo tão certo, que não está normal??? Infelizmente quando passamos por muitos percauços às vezes nos deparamos com essa situação, acostumados com a tempestade, não sabemos ao certo como remar em um mar de calmaria... seria cômico se não fosse trágico, porque essa sensação tira o sono, essa sensação acaba com a leveza dos melhores momentos.. :(
 
Enfim que eu voltei pra casa, saudável, bronzeada, maravilhosa, mais feliz que nunca... hahahaha
Ah, e com a certeza que a minha nova vida estava só começando... ;) ;) ;)