Uma MAV q não me impede de viver!!!


Capítulo 23

 

Não há facilidade nenhuma em se começar de novo... mas nesse recomeçar sempre há a possibilidade de mudar... mudar as atitudes e os pensamentos...

Recomecei trabalhando e trabalhando... não consegui voltar à sala de aula... não tinha coragem de naquele momento assumir mais um desafio, então resolvi passar um semestre somente nas orientações de estágio e com meu trabalho diário na câmara...

Nesse reaprender, resolvi reaprender sem medo... sem medo de viver... sem medo de ser feliz...

Recomecei aproveitando cada oportunidade de sair, me divertir, encontrar pessoas...

Fui convidada para ir a um show do Fábio Junior numa cidade há uns 130km daqui... sinceramente, nada contra o Fábio querido, só que eu nunca havia pensado em ir num show dele... mesmo assim, eu fui... eu fui porque eu não queria mais perder as oportunidades de viver intensamente cada dia da minha vida...  eu fui porque eu queria acompanhar minhas amigas... eu fui porque eu queria ver gente... eu fui, porque nesse reinício eu aprendi que eu merecia ter momentos leves e alegres... e olha, se ele estiver aqui mais uma vez, terá a minha presença garantida... amei o show, amei as companhias... foi tudo maravilhoso...

Pouco tempo depois, voltamos ao mesmo local, agora para assitir a banda Malta... hum, eu não sou muito boa em ligar nomes às pessoas, então só lá descobri quem compunha a tal banda e como eram talentosos... talentosos e gatíssimos, entre o vocalista e o guitarrista, nem saberia escolher, o mais talentoso... hahahaha..

E saber que nesse show só fui porque fomos convidadas, minha amiga e eu por uma casal de amigos, cuja mulher é médica... Digo isso porque não estava me sentindo muito bem naqueles dias, mas sabendo que estaria com ela me senti mais segura... Isso me faz lembrar uma vez, há muitos anos, quando o Dr. Lauro me perguntou o que me faria ficar mais tranquila, mais confiante... e respondi que seria morar em Curitiba, pertinho dele.. hahaha

Trabalho e mais trabalho... e uma amiga quis ir em outro show - Munhoz e Mariano, mais uma vez nada contra, mas eu nem sabia quem era um e quem era o outro, o que me deixou numa situação difícil porque quando disse que iria ao show, uma outra amiga me deu uma missão - dar um apertão na "bundinha" do Marianão - afff, e eu não sabia quem era o tal Marianão... hahaha

Apesar de todo o sucesso da dupla, eu andava tão desligada de tudo que é bom, que nem sabia que existiam... Porém, claro que fui no show e fui decidida a me divertir... marcamos  com duas amigas de Palmas, local do evento, e fomos... poucas vezes na vida eu havia me divertido tanto... adorei o show, mas fiquei com o maior peso na consciência por não conseguir cumprir àquela "triste" missão... hahahaha

Ao menos descobri quem era o Marianão e confesso, já estou com saudades!!! hahaha

O show foi maravilhoso porque os cantores são incríveis, porque a animação foi total, porque a companhia estava ótima e porque eu me permiti viver sem medo e sem culpa...

Acho que por ter passado tantas dificuldades, e por só querer, sempre, mais uma chance de viver, e por só pedir a Deus saúde, eu me sentia culpada quando queria mais que saúde, quando procurava alegria, diversão ou amor.. Burrice a minha, mas antigamente, era assim que eu sentia... :(

E a vida continuava... trabalho, amigos, família...

Tudo estava correndo muito bem... eu estava muito mais confiante e muito mais feliz... estávamos no final do ano, nas festividades de Natal... programamos amigo secreto, ou melhor amiga secreta, em duas turmas de amigas...

No dia da primeira festividade, vi que a necrose que havia aparecido há poucos dias cresceu absurdamente... Fui na jantinha, mas sem nenhuma leveza, pelo contrário, fui tensa... tudo deu certo, ufffaaaaaaaaaa...

No outro dia tínhamos a finalização da novena de Natal, que eu adoro participar e o outro amigo secreto do clube da Luluzinha... mais uma festa, e mais uma preocupação... o medo pela necrose já estava tomando conta... :(

Cheguei do trabalho e fui para o banho... ah, o banho não foi fácil não...

Quando estava terminando meu banho, vi sangue escorrendo no meu corpo... e o terror entrou de novo na minha vida... Uma vontade louca de chorar, de gritar, de dizer de novo não... de novo não... mas àquela não era a hora de se lastimar, era hora de agir...

Consegui estancar, até que rapidamente, pressionando o local, mas só o fato de olhar as toalhas brancas agora vermelhas... o banheiro todo ensanguentado... e o desespero nos olhos dos meus pais, já me fazia voltar anos e anos e pensar que a minha tranquilidade acabara de acabar...

Não consegui ir na novena, nem no meu amigo secreto...conversei com meu médico e ele me tranquilizou um pouquinho...

Se é que naquele momento isso era possível...

Estávamos com uma ida para Balneário Camboriú programada,  para passar o Natal com meus tios e primos queridos... e a primeira coisa que pensamos foi em desistir... mas as horas passam, o coração se acalma e resolvemos viajar, afinal não podia me abater com o acontecido...

Viajamos muito bem... dirigi todo o tempo...

Estava preocupada com o sol forte, já sabia que não poderia pegar praia de jeito nenhum... e tudo conspirou a favor.... choveu em todos os dias que ficamos lá, e eu feliz com isso.. hahahaha

Não estávamos preocupados com o clima... não queríamos a praia, nós queríamos o aconchego da família... a energia do reencontro... a paz de estar entre pessoas que amamos numa data tão especial...

Mais um amigo secreto... mais uma festa... uma não, várias festas... e a minha maior tensão era logo cedo quando eu precisava fazer uma limpeza na necrose... quanto medo de sangrar de novo... os meus banhos também eram rápidos, eu não via a hora de terminá-los em sangramentos...

Passeamos muito, aproveitamos cada minuto da viagem apesar do mau tempo, e o passeio mais forte foi para o Santuário da Madre Paulina em Nova Trento... eu já havia estado lá quando era adolescente... mas nesse momento difícil da minha vida poder estar lá mais uma vez foi emocionante... Estava assistindo uma missa quando o celebrante anunciou que ao lado encontrava-se um padre para quem quisesse se confessar... eu não pensei duas vezes, corri pra lá... eu queria me confessar, eu queria me aconselhar, eu queria que ele me ajudasse a encontrar a paz...

Além dos problemas de saúde, das angústias e das dores por conta dos sangramentos... apesar dos inúmeros recomeços, eu ainda tinha algo que pesava no meu peito... Lembram daquele carinha da Net??? Eu ainda me sentia culpada de alguma  forma por aquele relacionamento, eu ainda me sentia triste, e era isso que eu mais queria contar para o sacerdote... ele me ouviu, e me disse que Deus nos perdoa por todos os nossos erros, nós é que precisamos nos perdoar... Ele ouviu todos os meus lamentos, de todas as espécies, que não eram poucos, me entendeu, me abençoou e me disse para descer até um riacho e deixar lá todo o peso do mundo que eu teimava em carregar nas minhas costas... foi isso que eu fiz, porque eu acreditei que isso ajudaria abrir meu coração fechado há tantos e tantos e tantos anos e ainda aliviar as minhas dores...

Acho que vocês notaram que há muito não falamos mais em romances não é??? hahaha

Resolvemos voltar para casa ainda no dia 25 de dezembro, pensando em evitar um trânsito muito intenso... grata ideia, fizemos uma viagem de regresso maravilhosa...

Quando voltamos  e agora mais tranquila por estar em casa e principalmente por ter conseguido cumprir o nosso planejamento para o Natal, foi vida que segue...

Acho que no dia 26 recebi uma mensagem no facebook de um homem que dizia me conhecer da época da faculdade... ele lembrava da roupa que eu estava vestindo numa certa noite em que nos vimos... eu fiquei impressionada, e impressionada também pela sua gentileza e forma de conversar...

Depois de tanto tempo sem interesse por ninguém, agora acontecia isso....

Será que aquela história de abrir o coração, estaria dando certo???

Não tínhamos nada diferente para o Ano Novo,então estávamos em casa, meu pai, minha mãe e eu... Ceiamos antes da hora e estávamos aguardando a meia noite chegar para brindarmos o ano que se iniciava... Meu pai foi deitar e pediu para que o acordássemos na hora... minha mãe e eu assistíamos TV na sala, quando senti vontade de espirrar...e não sei o porquê, mas pressenti que iria sangrar... Não consegui segurar o espirro, e como ele veio eu senti o sangue escorrer... Sangue, muito sangue... como se tivesse aberto uma torneira...  Nem preciso falar do tamanho do desespero que me tomou e aos meus pais também... deixando um rastro vermelho por onde passei, cheguei ao banheiro e com uma toalhinha e muita pressão no local consegui estancar... aquele alerta vermelho que mencionei em outro capítulo que me deixa acesa, que me faz reagir ao invés de chorar, foi o que me salvou de novo...

Mesmo tremendo, mesmo em pânico, depois de cessar o sangramento eu liguei para o Dr. Márcio, faltando dez minutos para a virada de ano... Querido, ele largou sua festa e me atendeu... com muita paciência me fez algumas perguntas para ter certeza se o sangramento era venoso ou arterial e aí me disse para ficar tranquila, que havia acontecido por conta da necrose, e que isso poderia acontecer mesmo...

A primeira noite do ano foi apavorante... o champagne ficou no gelo... as uvas guardadinhas... e a minha esperança para aquele ano um pouco estremecida...

Minha mãe dormiu no meu quarto pois todos tínhamos medo que o sangramento se repetisse, mas isso não aconteceu...

O primeiro dia do ano foi um tanto difícil, sem mastigar, sem rir, sem cantar, sem dançar... fiz um dia de repouso mesmo sem prescrição médica pois estava morrendo de medo...

Amanhecendo o dia 02, e minha mãe ainda dormindo no meu quarto, levantei antes dela e fui ao banheiro... quando baixei a cabeça para lavar meu rosto, a cena se repetiu... Mais um sangramento imenso... Dá pra imaginar o que passou pela minha cabeça naquela hora??? Nossa, quantas questões... quanto desespero... quanta dor na alma e no coração... Meu pais mais uma vez desesperados e eu ali, precisando agir de novo... engraçado, mesmo quando parece que as forças se esgotaram, quando somos acionados nossas forças ressurgem, misteriosamente, lá de dentro... lá do fundo... Fiz o que podia e pedi que meu pai ligasse para meu médico em Pato Branco...

Depois de conseguir estancar o novo sangramento, partimos para Pato Branco onde fui atendida pelo Eduar Neto... seu pai já havia me socorrido em várias ocasiões... agora era a vez dele... haha

Cansada, nervosa, com fome e cheia de expectativas negativas... foi assim que dei entrada no Pronto Socorro... cheguei a levar a minha blusa com o sangue para ficar mais fácil o diagnóstico pela cor do sangue...

E o que ele me disse, com toda propriedade e serenidade???

“Luciana, o que você pode fazer por você, é repouso”...

Repouso, eu queria poder fazer muito mais por mim, mas eu só podia repousar... Para me ajudar a relaxar ele me deu um remedinho para dormir, pois entendia todo o meu temor em dormir e acordar lavada em sangue... O Eduar também me disse para não mexer mais na necrose, não mais fazer as limpezas que eu fazia pois poderia prejudicar ainda mais o quadro...

Como dizem, eu sou muito obediente, mas só quando a ordem parte dos meus médicos... e foi assim mais uma vez... :)

Foi difícil fazer repouso sabendo que havia um novo presidente na Câmara e que eu precisava alterar toda a documentação... era um período crucial no meu trabalho e eu não podia trabalhar... nossa como foi difícil, fiz o que pude de casa e graças a ajuda dos colegas, não perdemos nenhum prazo, não deixamos nada para trás como eu temia... Graças a compreensão de todos eu pude repousar...

Eu sei que tem muita gente que diria, ferre-se o trabalho... mas eu não consigo ser assim, eu gosto de cumprir com minhas responsabilidades sempre, seja como for...

Nesses 14 dias de repouso as conversas com o rapaz do facebook se intensificaram... por muitas vezes em pensava que não teria futuro, por muitas vezes eu via que nossas maneiras de pensar e agir eram muito diferentes, mas eu queria abrir meu coração... eu queria me dar uma chance...

Ele me ajudou muito... sempre com uma palavra de carinho, de conforto,de atenção e cuidado...

Entre muitos livros... programas de TV... noites de sono muito bem dormidas com o meu remedinho a necrose ia crescendo, crescendo, crescendo... e o meu medo ia aumentando, aumentando, aumentando...

O aspecto era horrível, só não tão horrível quanto a minha insegurança...

Eu estava fazendo tudo o que meus médicos mandavam, mas nada parecia ajudar...

Passei muitos e muitos dias com medo de falar, de rir, de cantar... e como eu adoro falar, rir e cantar..

Sabem aqueles castigos que os pais dão aos filhos, lhes tirando o que mais gostam de fazer... acho que era assim que eu estava me sentindo, mas sem saber o que eu tinha feito de errado... :(:(

E mais uma vez eu me sentia enjaulada... mais uma vez eu me sentia prisioneira, não da necrose, do medo...